Sedentarismo no Brasil

A luta do Brasil contra a obesidade

Mais de 1 bilhão de pessoas no mundo são obesas. Desse total, 65% são adultos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ministério da Saúde afirma que a taxa de obesidade triplicou desde 1975

O Brasil é um dos países com maior quantidade de pessoas obesas no mundo. É o que mostra a pesquisa divulgada em 2014 pela revista Lancet. Conforme o estudo, o país concentra a 3º maior população obesa masculina e a 5º maior população feminina obesa.

Se em 2014 já eram mais de 30 milhões de pessoas obesas, com a pandemia do novo coronavírus, essa estatística se agravou ainda mais.

A pandemia transformou nosso modo de viver e de se relacionar, não é mesmo? Em vez de fazermos as tarefas fora de casa, começamos a fazer praticamente tudo dentro de casa, seja trabalhar, estudar, cozinhar, entre outras atividades.

De acordo com o Ministério da Saúde, as pessoas isoladas e fazendo tudo dentro de casa fez com que elas se tornassem mais sedentárias. Assim, com tantos afazeres, e o tempo para cozinhar uma alimentação saudável cada vez menor, muitos optaram pelo consumo de alimentos ultraprocessados.

Diante dessa realidade, hoje ficou marcado como o Dia Mundial da Obesidade. O objetivo da data é conscientizar e incentivar as pessoas a alcançar e manter o peso apropriado, por meio de hábitos saudáveis e tratamento adequado para poder reverter a obesidade.

Dessa forma, esse artigo possui como objetivo a conscientização sobre a obesidade, mostrando as suas causas, riscos e formas de prevenção.

Assim, o artigo será estruturado da seguinte maneira;

  • O que é obesidade?
  • Qual a diferença entre obesidade e sobrepeso?
  • A obesidade no Brasil.
  • Quais são as causas?
  • Sinais e fatores de risco.
  • Tratamento e prevenção contra a obesidade.

Boa leitura!

O que é a obesidade?

Conforme a Organização Mundial da Saúde, a obesidade é o acúmulo de gordura em nosso corpo. Segundo o Ministério da Saúde, a obesidade deve ser entendida como um conjunto de fatores que podem envolver questões históricas, biológicas, ecológicas, econômicas, sociais, culturais e políticas.
No entanto, o excesso de gordura também pode ser definido pela relação entre energia consumida e a energia gasta em atividades que realizamos no dia a dia.

Por exemplo, quando consumimos muitos alimentos ricos em carboidratos e açúcares, sejam eles com bom valor nutricional, como alimentos in natura, ou com baixo teor nutricional, como alimentos processados e ultraprocessados, eles rapidamente se transformam em gordura. Ela é gasta nas atividades essenciais para o funcionamento do corpo, como nas atividades da nossa rotina.

Entretanto, quando diminuímos as atividades e mantemos ou aumentamos o consumo de alimentos, essa gordura tende a acumular embaixo da pele, ou seja, nas células adiposas, que possuem como função armazenar gordura. Assim, esse acúmulo pode proporcionar o aumento de peso.

Alimentos in natura, processados e ultraprocessados

O Guia Alimentar para a População Brasileira, divulgado pelo Ministério da Saúde em 2014, apresenta quatro categorias de alimentos, conforme o processo empregado na sua produção:

  • Alimentos In Natura: são diretamente obtidos das plantas e animais, ou seja, não sofreram nenhuma alteração ao deixar a natureza. Por exemplo, podemos citar as folhas, legumes, frutas, leite e ovos;
  • Produtos extraídos de alimentos in natura: utilizados pelas pessoas para cozinhar e temperar os alimentos. Exemplos: óleos, gorduras, sal e óleos;
  • Alimentos processados: são produtos fabricados, onde adicionam sal, óleo ou açúcar a um produto in natura. Essas soluções ajudam preservar, conservar e até mudar o sabor dos alimentos, o qual, na maior parte das vezes, são enlatados ou embalados. Exemplos: frutas em calda, ervilha, milho, queijos, sardinha ou atum enlatados;
  • Alimentos ultraprocessados: são produtos cuja composição são de substâncias extraídas de alimentos (óleos, açúcar e sal, gorduras hidrogenadas, amido), como também de substâncias sintetizadas em laboratório (corantes, aromatizantes e realçadores de sabor). Exemplos: biscoitos, sorvetes, balas, molhos, macarrão instantâneo, refrigerantes, hambúrgueres, entre outros.

Qual a diferença entre sobrepeso e a obesidade?

Você deve estar se perguntando: “Eu entendi a definição de obesidade, mas como posso saber se uma pessoa pode ter obesidade?” A resposta é: através do IMC.

De acordo com o Ministério da Saúde, o Índice de Massa Corporal (IMC) foi criado no século XIX pelo matemático, Lambert Quételet. É um cálculo simples, cujo objetivo é identificar se a pessoa está com o peso ideal ou não.

Nesse sentido, para chegarmos a esse valor, basta saber o peso em quilogramas e dividir pela sua altura elevado ao quadrado.

Conforme a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica, se o valor do índice é:

  • 18,5 kg/m² ou menos: pode ser um problema de desnutrição. A pessoa deve procurar um médico para entender o caso;
  • Entre 18,6 e 24,9 kg/m²: peso normal;
  • Entre 25 e 29,9 kg/m²: sobrepeso, considerado pré-obesidade. Indivíduos nessa faixa podem apresentar hipertensão e diabete. Antes de tomar medidas, é muito importante procurar um médico;
  • Entre 30 e 34,9 kg/m²: obesidade grau 1. Sinal de alerta de que é necessário ter cuidados. É preciso um acompanhamento com um nutricionista ou endocrinologista;
  • Entre 35 e 39,9 kg/m²: obesidade grau 2;
  • Acima de 40 kg/m²: obesidade grau 3. Alerta vermelho. Há grandes chances de haver doenças graves. A pessoa deve iniciar o tratamento o mais rápido possível.

A obesidade no Brasil

Em 2019, a Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) divulgou a estimação sobre a frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e o Distrito Federal.

O objetivo da pesquisa era monitorar, por inquérito telefônico, a frequência e distribuição dos principais determinantes de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Dessa forma, o público-alvo da pesquisa foi a população adulta, maiores de 18 anos, que residem em domicílios, com pelo menos, uma linha de telefone.

As entrevistas telefônicas aconteceram entre janeiro e dezembro de 2019.

Assim, os primeiros fatores determinantes para doenças crônicas não transmissíveis foram a obesidade e o excedente de peso. Como vimos anteriormente, as pessoas podem estar com excesso de peso quando o IMC está acima de 25 kg/m² e, com obesidade, quando está acima de 30 kg/m².

Excesso de peso

Conforme a pesquisa, as capitais brasileiras com o maior percentual de adultos com excesso de peso foram em Manaus (60,9%), seguido por Recife (59,2%) e Porto Alegre (59,2%).

Por outro lado, as capitais com os menores percentuais foram: Vitória (49,1%), São Luís (50,3%) e Salvador (51,8%).

Lembrando que esses números representam o total de homens e mulheres. No entanto, a pesquisa apresentou os dados relativos à população masculina e feminina.

De acordo com a Vigitel, de todas as capitais, o percentual de excesso de peso foi de 55,4%. Entretanto, o percentual foi maior em homens (57,1%) do que em mulheres (53,9%). Na população masculina, o percentual aumentou em homens com idade até os 44 anos e com mais de 12 anos de estudos.

Já as mulheres, o percentual foi maior em adultos com idades até os 64 anos, embora quanto ao nível de escolaridade, mulheres com menos anos de escolaridade apresentaram um maior percentual de excedente de peso.

A Obesidade

Em relação à obesidade, segundo a pesquisa, o percentual de adultos com obesidade foi maior nas capitais, como: Manaus, 23,4%, seguido por Rio Branco, 23,3%, e Macapá, com 22,9%.

Pelo contrário, os menores percentuais foram das cidades: Palmas,15,4%, São Luís, 17,2% e Teresina e Vitória, com 17,6%.

No conjunto das 27 cidades, o percentual de adultos obesos foi de 20,3%. Quanto à população masculina, o percentual aumentou em homens com até os 64 anos e em mulheres com até 54 anos. Além disso, a taxa de adultos obesos diminuiu conforme os anos de escolaridade.

Obesidade Infantil

A pesquisa Vigitel se limita apenas a população adulta maior de 18 anos. No entanto, não podemos deixar de falar da obesidade infantil.

De acordo com a World Obesity, a estimativa de crianças com obesidade, entre 5 e 9 anos, aumentará nas Américas de 19%, em 2020, para 23% em 2030.

Anualmente, a Word Obesity publica um Atlas sobre a obesidade, cujo objetivo é fornecer projeções sobre a obesidade adulta e infantil, sintetizando o quanto os países estão longe de atingir as metas globais da OMS sobre obesidade.

Segundo a instituição, a prevalência de crianças entre 10 e 19 anos nas Américas, em 2020, foi de 19%. A estimativa para 2030 é de 23%.

Conforme o relatório do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional, em 2021, foram diagnosticadas no Brasil cerca de 356 mil crianças com obesidade, todas entre 5 e 10 anos. E esse número tende a aumentar, pois a estimativa é de que no Brasil, até 2030, tenha 7,7 milhões de crianças entre 5 e 19 anos com obesidade infantil,.

Dessa forma, em toda a América, esse número poder chegar a 44 milhões de crianças, segundo o World Obesity Atlas.

Portanto, pelos dados apresentados pela Vigitel e pelo Atlas Mundial da Obesidade, um grande parcela da população brasileira se encontra com excesso de peso ou obesidade. Mas, afinal, será que a principal causa da obesidade é o consumo exagerado de alimentos? Isso é o que veremos no próximo tópico!

As causas da obesidade

De acordo com o Atlas Mundial da Obesidade, a obesidade, como todas as doenças crônicas, possui uma ampla gama de fatores determinantes: biologia, genética, acesso à saúde, saúde mental, fatores socioculturais, equidade, alimentos ultraprocessados, economia, determinantes comerciais e determinantes ambientais.

Nesse sentido, o Caderno de Atenção Básica, do Ministério da Saúde, aponta que o consumo excessivo de alimentos, principalmente alimentos ultraprocessados, é o fator determinante mais imediato.

Conforme a pesquisa Vigitel, o percentual de adultos maiores de 18 anos que consumiram 5 ou mais grupos de alimentos ultraprocessados correspondeu a 18,2%, média de todas as capitais avaliadas.

Ainda segundo o Ministério da Saúde, as transformações ao longo da nossa história fizeram com o que a energia perdida se tornasse cada vez menor. Por exemplo, o deslocamento das pessoas do campo para a cidade e a industrialização dos alimentos que, por sua vez, diminuiu o esforço físico no trabalho e no dia a dia. O acesso fácil a alimentos industrializados e às facilidades das tecnologias torna favorável a aumento da obesidade.

Do mesmo modo, o Ministério da Saúde aponta fatores, identificados ao longo da vida, que podem tornar as pessoas mais suscetíveis à obesidade: ciclo reprodutivo, ganho de peso após a gravidez, menopausa, duração da amamentação. Também há fatores psicológicos: estresse, ansiedade, compulsão alimentar e até a suspensão do hábito de fumar e o uso de medicamentos.

Sedentarismo

Além de todos os fatores determinantes mencionados, não podemos esquecer do sedentarismo. Segundo os dados apresentados pela Ipsos, o Brasil é o país com menor adesão à prática de atividades físicas.

Dessa maneira, a pesquisa Vigitel também entrevistou pessoas sobre o tempo que passavam assistindo televisão ou usando computador, tablet ou celular.

De acordo com os dados, do conjunto das 27 cidades, o percentual de adultos maiores de 18 anos que passam mais de 3 horas assistindo TV ou usando computador, tablet ou celular correspondeu a 62,7%.

Outro dado relevante é o percentual de adultos inativos. Para o Vigitel, pessoas fisicamente inativas, não, praticaram qualquer atividade física nos últimos 3 meses e que não realizam esforços físicos no trabalho, em casa ou no deslocamento no dia-a-dia. A taxa média de inativos ficou por volta de 13,9%.

Sinais e fatores de risco

Como vimos, são diversos fatores que podem ser favoráveis à obesidade. Entretanto, ela pode acarretar alguns sinais e sintomas:

  • Falta de ar: devido ao peso do abdômen sobre os pulmões. Assim precisam fazer mais esforço para a realização das atividades;
  • Dificuldades para deslocar: seja uma caminhada ou ir ao trabalho, o excesso de peso pode ser prejudicial;
  • Dores no corpo: para sustentar o peso, há um esforço das pernas, costas, ombros e joelhos. Um simples caminhada pode se tornar bastante dolorida;
  • Dermatites: acúmulos de suor e sujeira nas dobras do corpo;
  • Impotência sexual: dificuldades no fluxo dos vasos sanguíneos e alterações hormonais;
  • Roncos: O acúmulo de gordura pode acometer diversas partes do corpo, inclusive o pescoço. Dessa forma, pode atrapalhar o fluxo de ar;
  • Varizes: modificação nos vasos e circulação sanguínea;
  • Ansiedade e depressão: as pessoas podem sofrer muitos julgamentos e preconceitos que prejudicam a sua autoestima e a busca por tratamento.

A obesidade é um fator de risco para quais doenças?

Conforme o Centro Especializado de Obesidade e Diabete Oswaldo Cruz, a obesidade é um fator de risco para diversas doenças, tais como:

  • Hipertensão arterial;
  • Doenças cardiovasculares;
  • Doenças cérebro-vasculares;
  • Diabetes tipo 2;
  • Câncer;
  • Pedra na vesícula;
  • Diminuição do colesterol bom;
  • Aumento do triglicérides, colesterol e da insulina;
  • Osteoartrite.

Tratamento e prevenção contra a obesidade

São tantos fatores de riscos que podem ser prejudiciais à saúde, que as melhores soluções são os tratamentos e a prevenção.

Assim, como mostramos no início do artigo, o consumo exagerado de alimentos – principalmente os ultraprocessados – e o sedentarismo são as causas que mais contribuem de imediato para a obesidade

De acordo com o Ministério da Saúde, a adesão de hábitos como a ingestão de alimentos ricos e nutrientes e a prática de atividades físicas podem ajudar a perder e manter o peso.

Existem outras formas para tratar a obesidade?

Conforme o Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos (CEBRIM), há medicamentos que podem ajudar na diminuição do peso. No entanto, contribuem de forma temporária, nunca devem ser utilizados como única forma de tratamento.

Além disso, parte dos componentes dos medicamentos podem agir e provocar diversas reações: insônia, aumento dos batimentos cardíacos e da pressão arterial, intestino,preso, boca seca e nervosismo.

Cirurgia bariátrica e Injeção

Segundo o Ministério da Saúde, a cirurgia bariátrica, ou cirurgia de redução de estômago, modifica a forma do estômago, ou seja, diminui o seu tamanho, para absorver menores quantidade de alimentos.

Nesse sentido, a pessoa tende a ingerir menos calorias, impedido a ingestão excessiva. A cirurgia é indicada para pessoas com IMC acima de 40, isto é, obesidade grau 3.

Entretanto, também é recomenda para pessoas com IMC acima de 35 (obesidade grau 2), pois nesses casos, muitos dos pacientes já foram diagnosticados com doenças como diabete, hipertensão, colesterol, entre outras.

A cirurgia bariátrica pode ser realizada de duas formas:

  • laparoscopia: realização de um pequeno orifício no abdômen;
  • Aberta: através de um corte de 30cm.

Ademais, a bariátrica é uma cirurgia segura e uma das mais realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No pós-cirurgia, o paciente deve tomar cuidados para evitar complicações e efeitos colaterais.

Injeção contra a obesidade

Em janeiro desse ano, a Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou para uso no Brasil o primeiro medicamento injetável no combate à obesidade.

A injeção, conhecida como Wegovy, é produzida e desenvolvida pela farmacêutica dinamarquesa Nova Nordisk. Comercializada em países como os Estados Unidos e Japão, a medicação é indicada para pessoas que tenham pelo menos uma doença relacionada ao sobrepeso, como diabete tipo 2, hipertensão, entre outras.

Em contrapartida, a injeção não é indicada para mulheres grávidas ou em processo de amamentação. Além das contraindicações, a injeção pode gerar efeitos colaterais como: náusea, diarreia e vômito e constipação intestinal.

Funcionamento

O principal ativo do medicamento é a semaglutida, o mesmo componente utilizados em medicamentos para diabetes tipo 2 e para o controle de peso. Essa substância atua na redução da ingestão de alimentos, por meio da desaceleração do esvaziamento gástrico, e estimulando a secreção da insulina.

Para isso ocorrer, o medicamento age no cérebro, na região responsável pela saciedade, e avisa que chegou ao estômago comida suficiente. Dessa forma, a pessoa possui a sensação de saciedade.

A injeção é aplicada na região da barriga, uma vez por semana.

Comercialização

Apesar da aprovação da ANVISA, a medicação ainda não é comercializada. Ainda mais, necessita da avaliação na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) para que a injeção possa ser ofertada ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Por fim, é muito importante lembrar de duas coisas: em primeiro lugar, procure um médico especialista antes de realizar um tratamento ou uma atividade. Cada caso é um caso. Em segundo lugar, apenas a medicação ou uma cirurgia não resolve totalmente o problema.

Além dos tratamentos, deve-se aliar com a mudança e a adoção de hábitos saudáveis. E claro, sempre com acompanhamento médico!

Escrito por Adilson Junior

Revisado por Jéssica Duarte

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