Mapa da Desigualdade: Veja como foi a avaliação da cidade de São Paulo

O que é o Mapa da Desigualdade?

O Mapa da Desigualdade possui como objetivo trazer os dados dos 96 distritos da cidade de São Paulo. A pesquisa é lançada anualmente, desde 2012. O relatório foi publicado pela organização de sociedade civil, Rede Nossa São Paulo em parceria com o Programa Cidades Sustentáveis

Desse modo, a pesquisa busca identificar as prioridades e necessidades da população em seus distritos.

Assim, o Mapa da Desigualdade aborda indicadores nas várias áreas da Administração Pública como: população, habitação, saúde, educação, direitos humanos, cultura, meio ambiente, segurança e mobilidade.

Os indicadores divulgados, foram obtidos através de fontes públicas e oficiais.

População

Negros e Pardos

De acordo com o Mapa da Desigualdade, o bairro de Moema concentra – se apenas 5,8 % da população negra e parda.

Assim também, outros distritos concentram – se entre 5,8 % e 16,1% da população negra como:

Alto dos Pinheiros, Itaim Bibi, Jardim Paulista, Vila Mariana, Perdizes, Santo Amaro, Consolação, Lapa,Saúde,Tatuapé,Pinheiros, Campo Belo, Mooca, Água Rasa, Vila Leopoldina, Santana, Barra Funda e Butantã.

Em contrapartida, os distritos onde a população negra é maioria, ou seja, acima de 50% são: Anhanguera, Brasilândia, Iguatemi, Vila Curuçá, Jardim São Luís, Guaianases, Pedreira, Capão Redondo, Jardim Helena, Itaim Paulista, Cidade Tiradentes, Lajeado, Parelheiros, Grajaú, Jardim Ângela.

Portanto, percebemos que nos bairros próximos ao centro, a maioria da população é branca. Entretanto, nas extremidades, ou seja, nos bairros mais distantes do centro, a maioria da população é negra.

Crianças e Moradores de Rua

Em relação a população infantil, o distrito do Alto dos Pinheiros apresenta a menor proporção de população de 0 a 6 anos, cerca de 5,4%. Em contrapartida, no distrito de Parelheiros, a população de 0 a 6 anos representa 11,6%. A média na cidade de São Paulo é de 9,1%.

Além disso, outra informação preocupante é a população de rua. No distrito de Santa Cecília, no centro da cidade, são mais de 5 mil moradores de rua. A média na cidade é de 339 moradores. E também nessa região está localizada a Cracolândia.

A Cracolândia, já chegou a concentrar mais de 2 mil dependentes químicos na região central. Contudo é um problema social que nunca é resolvido e passado de gestão para gestão.

Por isso a importância de políticas públicas de longo prazo, que não sejam implementadas só em 4 anos.

Habitação

Uma moradia digna é um direito de todos, mas devido aos altos custos para alugar ou comprar um imóvel, muitas pessoas acabam morando em lugares sem nenhuma ou pouca infraestrutura, como as favelas e as áreas de risco.

Conforme o estudo divulgado pela Rede Nossa São Paulo, os bairros que não possuem favelas, estão próximos das regiões centrais como: Alto dos Pinheiros, Perdizes, Pinheiros, Itaim Bibi, Barra Funda, Jardim Paulista, Bela Vista, Liberdade, Consolação, Sé e República.

Em segundo lugar, os distritos que possuem 16,42% a 32,7% dos domicílios em favelas são: Rio Pequeno, Vila Sônia, Campo Limpo, Vila Andrade, Capão Redondo, Jardim Ângela, Jardim São Lucas, Pedreira, Sacomã, Sapopemba, Brasilândia e Cachoeirinha.

Assim, as regiões que apresentam as maiores proporções estimadas de moradias em setores de risco geológico e hidrológico alto em total de domicílios, são as regiões norte, leste e sul.

Educação

A educação é a base para a formação de indivíduo, como pessoa, cidadão e profissional. Por isso, a importância de investir em educação desde o ensino básico.

No município de São Paulo, a média de matrículas no ensino básico em escolas públicas corresponde a 76,1%, mas há exceções positivas e negativas. O distrito do Brás, possui a menor proporção de matrículas, cerca de 6,1%. E os exemplos a serem seguidos, são os distritos de Anhanguera e Marsilac que apresentam a maiores proporções, 100%

Outro dado abordado pela pesquisa, é a taxa de distorção idade – Série no Ensino Fundamental da Rede Municipal. Enquanto a média na cidade é de 7,8 %, no distrito de Perdizes, a taxa chega a 14,7%. A menor taxa é no distrito do Butantã, equivalente a 4,6%.

Evasão Escolar

A evasão escolar é uma triste realidade na educação brasileira. Entre alguns motivos que desestimularam os estudantes foi o ensino remoto, adotado no período de pandemia de COVID -19.

Nesse sentido, as dificuldades de acesso à internet de qualidade e falta de equipamentos para estudar, contribuem para essa realidade. Na maioria dos bairros de São Paulo, o número de antenas de internet móvel para cada 10 mil habitantes, não chegam a 5 antenas.

Entretanto, nas regiões do Centro e na Zona Oeste, possuem entre 30 a 50 antenas para cada 10 mil habitantes. Só no distrito do Itaim Bibi são 50 antenas.

Em 2021, apenas 3 distritos, não houveram evasão escolar no Ensino Fundamental da Rede Municipal. Na maioria dos distritos, a taxa de evasão foi entre 0,5% a 1,9%

Dessa forma, o futuro de várias crianças é interrompido. Além das dificuldades ao acesso à internet, muitos deixam de estudar, para ajudar a família ou estão desestimulados para continuar os estudos. Por isso, a importância de políticas públicas e um governo municipal mais atuante.

Ideb

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), avalia a educação básica das escolas públicas de todo o Brasil.

De acordo com o Mapa da Desigualdade, nos anos finais do Ensino Fundamental, as escolas públicas que obtiveram as menores notas no IDEB, estão localizadas nos extremos da cidade. Notas entre 4,3 a 4,8. O distrito do Butantã, obteve a melhor nota 6,1

Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a mesma realidade. As escolas públicas com as melhores notas estão localizadas nas regiões centrais. Destaque para o distrito da Consolação com nota de 6,7

Cultura

A cultura é de extrema importância para conhecermos a nossa história, nossos antepassados, como também acessar a outras culturas. Entretanto, na maioria das cidades, os espaços culturais como teatros, cinemas e museus encontram -se nas regiões centrais.

Nesse sentido, na cidade de São Paulo, não é diferente. Conforme a pesquisa, o números de distritos que não possuem acesso à cultura como:

Centros culturais, casas e espaços de cultura: 57 distritos;

Equipamentos públicos de cultura: 19 distritos;

Cinemas: 77 distritos;

Espaços culturais independentes: 49 distritos.

A cultura deve ser democrática e inclusiva e não restrita a uma parcela da população

Direitos Humanos

Atualmente, vemos diversos casos e relatos de pessoas que sofreram racismo ou injúria racial nos noticiários e nas mídias sociais. No entanto, alguns desses casos tristes, aconteceram na cidade de São Paulo com o cantor e humorista Eddy Jr

Conforme o Mapa da Desigualdade, os maiores números de vítimas de violência e injúria racial para cada dez mil habitantes, por distritos, aconteceram nas regiões do centro e zona oeste. No distrito da Barra Funda, em 2021, 25 pessoas foram vítimas de preconceito.

Além disso, o distrito da Barra Funda apresenta 2 dados alarmantes: em primeiro lugar, o distrito apresenta o maior coeficiente de mulheres vítimas de violência (todas as categorias) para cada dez mil mulheres residentes de 20 a 59 anos, por distrito, cerca de 636 vítimas. A média na cidade de São Paulo é de 234 vítimas.

Em segundo lugar, o distrito apresenta o maior número de vítimas e violência homofóbica e transfóbica (LGBTQIAP+) para cada cem mil habitantes, por distrito, cerca de 67 vítimas. A média na cidade é de 5 vítimas.

Leia Mais: A invisibilidade das mulheres na Copa do Mundo do Catar

Meio Ambiente

A coleta seletiva é muito importante para que o lixo doméstico tenha um destino correto e não seja descartado na natureza, prejudicando o meio ambiente.

Mesmo que a coleta seletiva seja uma política pública onde toda população deve ter acesso e direito, não acontece na cidade de São Paulo. Nas regiões leste e norte da cidade, apresentam a menor proporção de resíduos domésticos coletados seletivamente, por subprefeitura, cerca de 0,2% a 2,4%

As regiões do centro e zona oeste apresentam as maiores proporções de coleta de resíduos sólidos. Destaque para o distrito de Mariana, com 10,3% dos resíduos domésticos coletados. A média na cidade é de 2,1%.

O distrito Cidade Tiradentes,na região leste, possui o melhor índice de resíduos sólidos coletados per capita (tonelada/ habitante/ ano) por subprefeitura, cerca de 0,18. Em contrapartida, o distrito da Mooca, possui o pior índice, cerca de 0,38.

Esse índice é calculado por meio da quantidade de resíduos domiciliares coletados, em toneladas, por habitante. Assim, quanto maior o número, maior a proporção de lixo por habitante. O valor médio da cidade de 0,30 ton/ano/ habitante equivale a 25,4 kg de resíduos sólidos por mês, por pessoa. Só para ilustrar, essa quantidade é igual a 0,84 kg de resíduos sólidos por dia, por pessoa

Segurança

Como já mencionamos no artigo, sobre o alto número de mulheres vítimas de violência no distrito da Barra Funda, a taxa de feminicídios não é diferente!

No distrito, em 2021, 6 mulheres foram vítimas de feminicídio para cada 10 mil mulheres residentes de 20 a 59 anos, por distrito. A média na cidade é de 0,7.

A categorização de classificação de óbitos de feminicídio possui como base as definições da Lei 13.104 de 2015, conhecida como a “Lei do Feminicídio”.

Outra informação sobre segurança abordada pelo relatório é o número de homicídios. De acordo com o Anuário de Segurança Pública, ao longo de 2021, 47;503 pessoas foram assassinadas no Brasil.

Em São Paulo, os maiores coeficientes de homicídios aconteceram nas periferias, nas regiões leste, sul e norte. Nessas regiões concentram a maioria da população negra. Destaque para o distrito de Socorro, na zona sul, que apresentou um coeficiente de 16,7.

Em relação aos homicídios de jovens, o distrito de Vila Guilherme, tem o maior coeficiente estimado de mortalidade de jovens por homicídio e intervenção legal para cada 100 mil pessoas residentes de 15 a 29 anos por distrito, cerca de 48,2%. A média na cidade é de 16,1.

A fórmula utilizada é o número total de óbitos por causas externas (homicídio e intervenção legal), na faixa etária entre 15 a 29 anos dividida pela população residente na faixa dos 15 aos 29 anos x 100.000

Mobilidade

Nas grandes cidades e capitais, o tempo de deslocamento para as áreas centrais ou para outros bairros pode variar conforme a distância entre os bairros, disponibilidade de transporte, engarrafamento entre outros fatores.

Afinal, o município de São Paulo possui mais de 12 milhões de habitantes e 96 distritos. Nesse sentido, o tempo médio de deslocamento, no horário de pico da manhã, utilizando o transporte público, por distrito é de 42 minutos.

O maior tempo médio de deslocamento é no distrito de Marsilac, cerca de 73 minutos. Em contrapartida, o tempo médio no distrito de Pinheiros, é de 25 minutos.

Então, segundo o Mapa da Desigualdade, os distritos mais distantes localizados nas regiões sul e leste apresentaram os maiores tempos de deslocamentos entre 51 a 73 minutos

Muitas pessoas para se deslocarem ao trabalho ou para outros compromissos precisam embarcar em várias conduções (trem, metrô ou monotrilho) para chegarem ao seu objetivo. Só que em São Paulo, o acesso ao transporte de massa é bem desigual.

Em 29 distritos, a população não reside próxima às estações de sistemas de transporte público de alta capacidade por Zona OD e por distrito.

No distrito da República, 88% da população reside a 1 km da estações de transporte público

Saúde

Neste artigo, vemos as diversas desigualdades no acesso à habitação, educação, cultura, meio ambiente, direitos humanos e mobilidade. Essas desigualdades impactam diretamente na qualidade e expectativa de vida.

Pessoas que moram nas extremidades das regiões leste, sul e norte, vivem entre 59,3 e 63,8 anos. A expectativa de vida no distrito de Iguatemi é de 59,3 anos.

Entretanto, uma pessoa moradora do distrito do Jardim Paulista, pode viver até os 80 anos. Na região oeste, a expectativa de vida está entre 73,9 a 80 anos.

O distrito do Jardim Paulista, assim como outros bairros nas regiões do centro e zona oeste, apresentaram boa infraestrutura e um bom acesso à cultura, e as políticas públicas são mais atuantes como na saúde.

O tempo médio para consultas na atenção básica, nessas regiões varia entre 0 a 10 dias, enquanto a média da cidade é de 19 dias. Em Campo Grande e Cidade Líder, são 39 dias de espera para uma consulta de atenção básica.

A demora no tempo de atendimento, pode atrasar no diagnóstico e no tratamento. E quando o assunto é o coronavírus, quanto mais cedo ser diagnosticado, melhor.

A mortalidade por Covid -19, foi bem maior nas regiões leste e norte. Em Jaguara, a proporção de óbitos por covid-19 em relação ao total de óbitos foi de 30,6%.

Mortalidade Materna e Gravidez na Adolescência

Em seguida, outro dado preocupante é a mortalidade materna. O distrito do Brás, apresentou a maior razão de mortalidade 304,2, apesar de a média em São Paulo ser de 72.

A fórmula utilizada é a média trienal (2019 a 2021) do total de óbitos por causas maternas dividido pela média trienal (2019 a 2021) do total de nascidos vivos x 100.000

No início do artigo, falamos que os distritos que possuíam mais crianças estavam localizados nas periferias da cidade. Eventualmente, os maiores números de casos de gravidez na adolescência acontecem nas mesmas regiões.

Conforme a pesquisa, a proporção de nascidos vivos de parturientes com menos de 20 anos em relação ao total de nascidos vivos é bem maior nas regiões sul, leste e norte, entre 6,6 a 13,3 %

O distrito de Cidade Tiradentes, possui a maior proporção, 13,3%. Em contrapartida, na Mooca, a proporção é de 0,4%.

A média da cidade de São Paulo foi de 8,5%

Evolução dos indicadores de 2016 a 2021

Contudo, além dos dados apresentados, o Mapa da Desigualdade apresentou um comparativo das médias da cidade de São Paulo.

De acordo com a pesquisa, os indicadores que apresentaram uma piora em comparação com anos de 2016 a 2021 foram:

Feminicídio: de 0,26 em 2016 para 0,7 em 2021. Aumento de 148,2%

Violência LGBTQIAP+: de 2,1 em 2016 para 5 em 2021. Aumento de 143%

Violência contra mulher: de 139,7 em 2016, para 234,6 em 2021. Aumento de 67,9%

Mortalidade Materna: de 51,2 em 2016, para 72 em 2021. Aumento de 40,5%

Violência Racial: de 1,2 em 2016, para 1,6 em 2021. Aumento de 28,2%

Distorção idade-série no ensino fundamental da rede municipal: de 7,4 em 2016, para 7,8 em 2021. Aumento de 6,2%

Cinemas: de 0,323 em 2016, para 0,02 em 2021. Diminuição de 95,1%

Centros Culturais, casas e espaços de cultura: de 0,10 em 2016, para 0,05 em 2021. Diminuição de 45%

Equipamentos públicos de cultura: de 2,4 em 2016, para 2,1 em 2021. Diminuição de 13,2%

Além disso, os indicadores que apresentaram uma melhora foram:

Favelas: de 10,8 em 2016, para 9,4 em 2021. Diminuição 12,8%

Idade ao Morrer: de 67,3 em 2016, para 68,1 em 2021. Aumento de 1,2%

Gravidez na Adolescência: de 11, 6 em 2016, para 8,5 em 2021. Diminuição de 26,7%

Abandono escolar no ensino fundamental da rede municipal: de 1,12 em 2016, para 0,08 em 2021. Diminuição de 24,4%

Conclusão

Portanto, os dados divulgados pela pesquisa, ampliam os conhecimentos sobre as desigualdades presentes nos bairros da cidade. Dessa forma, contribui para a elaboração e melhorias de políticas públicas visando combater essas diferenças sociais.

Além disso, poder auxiliar a gestão e o planejamento municipal, para que o governo possa ser objetivo, atuante e eficiente.

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Escrito por Adilson Junior

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