Os impactos da fome na sociedade brasileira

Fome aumenta no Brasil: Mais 33 milhões de brasileiros não tem o que comer

Em 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) retirou o Brasil da lista do Mapa da Fome. Mas o que é isso? O mapa da fome uma ferramenta que indica quais países não possuem o acesso adequado aos alimentos 

O Brasil foi referência internacional no combate à fome nos anos de 2003 à 2014. Entretanto após esse período, começamos a retroceder e voltamos novamente para o mapa da Fome.

Nesse sentido, um país entra no Mapa da Fome quando 2,5% da população enfrenta falta crônica de alimentos.

A ONU (Organização das Nações Unidas), elaborou na conferência realizada no Rio de Janeiro, a Rio +20, um plano  com 17 objetivos  globais de desenvolvimento sustentável, as ODS, para que todos os países possam crescer até 2030

Dessa forma, um desses objetivos é o Fome Zero, que propõe até 2030, erradicar as formas de má -nutrição (desnutrição e obesidade) E também, até 2025, os países alcançarem as metas de erradicar a desnutrição grave e crônica em crianças de até 5 anos de idade e garantir a segurança alimentar de mulheres( meninas, adolescentes, idosas, gestantes), como também as comunidades

De acordo com o II Inquérito sobre Insegurança Alimentar no contexto da Pandemia do Covid -19 no Brasil (II VIGISAN), estudo realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PESSAN), são 33, 1  milhões de pessoas passando fome.. Voltamos ao patamar dos anos de 1990. E para piorar, o número de pessoas que sofrem de alguma insegurança alimentar chegou a mais de 125 milhões de pessoas.Os dados da fome no Brasil não são nada animadores!

Assim, diante da desigualdade social e a fome prevalescentes no nosso país, estamos muito distantes do objetivo de erradicar a fome.

O que é a insegurança alimentar?

Conforme a (Rede PESSAN), a segurança alimentar é quando as famílias têm acesso permanente   aos alimentos de qualidade e em quantidades suficientes, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.

Enquanto a insegurança ocorre nas famílias que não possuem acesso regular aos alimentos em quantidade e qualidade, e as outras necessidades são comprometidas.

Tipos de Insegurança Alimentar: 

A  Insegurança Alimentar é classificada em três níveis:

Leve: Incerteza do acesso aos alimentos no futuro próximo ou quando a alimentação está comprometida

Moderada: O acesso aos alimentos é insuficiente

Grave: Fome e privação ao acesso aos alimentos

Mas como chegamos a tantas pessoas passando fome?

De acordo com os dados das pesquisas  PNAD (Pesquisa Nacional de Amostras em  Domicílio, POF ( Pesquisa de Orçamento Familiares) e VIGISAN, de 2003  à 2014, o Brasil reduziu a insegurança alimentar grave  de 9,5 % para 4,2% .Já em 2022, a insegurança alimentar  grave atingiu cerca de 15,2% dos brasileiros.

Nesse sentido, no mesmo ano, menos de 45% das pessoas avaliadas possuíam segurança alimentar.

A crise econômica de 2014, a pandemia do COVID -19, proporcionaram períodos, onde houveram grande número de pessoas desempregadas, que recorreram ao trabalho informal, para terem alguma forma de sustento. E junto com políticas públicas que não chegaram a quem mais precisa, houve um agravamento da fome no Brasil

Conforme o estudo divulgado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PESSAN),o  II Inquérito sobre Insegurança Alimentar no contexto da Pandemia do Covid -19 no Brasil (II VIGISAN), trazem dados importantes sobre as causas e os  impactos sociais que a fome gera para as famílias brasileiras.

O estudo realizado em 12745 domicílios, distribuídos pelos 577 municípios brasileiros, mostra que as  famílias mais vulneráveis à fome possuem renda de até meio salário mínimo.

A informalidade

Em segundo lugar, de acordo com a pesquisa, no Brasil, a insegurança alimentar moderada e grave é presente em  44% das famílias, onde declarou -se que o chefe de família está desempregado ou trabalha informalmente.

A pandemia agravou ainda mais as desigualdades. Com as restrições das atividades econômicas por questões sanitárias, para diminuir a contaminação pelo COVID -19, muitas pessoas perderam seus empregos. O Brasil chegou a ter mais de 14% da população desempregada.

Então,com o avanço da vacinação e a flexibilização das medidas restritivas, a taxa de desemprego começou a cair. Só que, um dos motivos dessa queda foi o aumento dos trabalhadores informais. Sem direitos e com a renda instável, gera uma grande incerteza quanto ao acesso e consumo de alimentos em quantidade e qualidade.

Conforme a pesquisa Pnad Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no 2º trimestre  de 2021, o país possuía 39,2 milhões de pessoas trabalhando na informalidade.

Desse total, 60,5% dos trabalhadores possuem baixa ou nenhuma qualificação e oferecem serviços instáveis conhecidos como bicos.

Ainda assim, segundo os dados divulgado pelo  II Inquérito sobre Insegurança Alimentar no contexto da Pandemia do Covid -19 no Brasil (II VIGISAN), o aumento da fome para chefes de família que declararam que possuíam menos de 8 anos de estudos, correspondem a 21% . Mas para os chefes de família com mais de 8 anos de estudos, esse número cai para metade, 10,5%.

Esses dados mostram que a fome no nosso país não anda sozinha. Junto com ela está o desemprego, a baixa escolaridade e a pouca ou nenhuma  renda. Isso mostra que para as famílias em vulnerabilidade social se tornam cada vez mais difíceis, viver com condições dignas.

Direitos fundamentais e essenciais estão sendo violados há um bom tempo.

E as nossas crianças?

Em 2020, mais de 490 mil crianças de até 5 anos de idade estavam em situação de desnutrição crônica no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde (MS), Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus)  e o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan)

De acordo com o estudo divulgado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PESSAN), nos domicílios que possuíam crianças menores de 10 anos a Insegurança Alimentar moderada e grave correspondia a quase 38% das famílias entrevistadas. 

 A desnutrição acontece pela falta de nutrientes fundamentais para o nosso corpo, como as vitaminas, minerais e proteínas . Conforme a Unicef, a ingestão de alimentos saudáveis nos primeiros anos de vida, são fundamentais para o desenvolvimento do cérebro e do corpo.

A falta de nutrientes nas crianças podem ocasionar:

  • Perda Muscular;
  • Cansaço;
  • Comprometimento de órgãos que podem levar a morte;
  • Deficiência imunológica
  • Desaceleração do crescimento
  • Alterações psíquicas e psicológicas

Desse modo, a desnutrição pode levar a dificuldades no aprendizado, como a leitura e a atenção. E com maiores dificuldades, pode levá-las a um desempenho ruim e até a evasão escolar.

Portanto, a fome tem impacto no desenvolvimento e crescimento da sociedade. As pessoas que sofrem de insegurança alimentar moderada e grave ficam incapacitadas de trabalhar, estudar e até de viver. Políticas Públicas são muito importantes para mudarmos essa realidade.

O Papel do programa Auxílio Brasil no combate à fome?

O Programa Auxílio Brasil, que substituiu o Bolsa Família, é um programa de transferência que inclui diversas políticas públicas de educação, saúde, assistência social, renda e emprego. É destinado para famílias de todo o país, que vivem em situação de pobreza e extrema pobreza.

De acordo com o relatório do  II Inquérito sobre Insegurança Alimentar no contexto da Pandemia do Covid -19 no Brasil (II VIGISAN), o Auxílio Brasil alcançou cerca de 40 a 60% das famílias, nas regiões Norte e Nordeste. E cerca de 30% a 40% para as demais regiões do país, nos domicílios entrevistados. 

Ainda que o programa beneficiou 21 milhões de famílias, o Auxílio Brasil, não alcançou parte das famílias que ganham até 1 ⁄ 2 salário mínimo, e apresentam altas taxas de Insegurança Alimentar grave.

Como acabar com a fome?

Plantar mais seria uma solução? 

Conforme o Estudo da Embrapa, O Agro no Brasil e no Mundo, edição 2022, o Brasil é o 4º maior produtor  mundial de grãos. Em 2021, foram produzidas cerca de 250 milhões de toneladas.

O nosso país é um grande exportador de alimentos, mas de acordo com o relatório da Rede PESSAN,, a Insegurança alimentar está presente em 60 % dos domicílios das áreas rurais. Desse total de domicílios, 18,6% das famílias estão passando fome.

As pessoas que trabalham para plantar, não se alimentam do próprio alimento que plantou!

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), propõe 4 ações para a distribuição e o acesso de alimentos para todos:

1) Não desperdiçar comida

Segundo (FAO), o Brasil é o 10º  país que mais desperdiça alimentos, de um total de 54 países. Esse ranking é da pesquisa PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e pela organização britânica de resíduos (WRAP)

Algumas atitudes para mudar esse cenário, podem ser praticadas no dia a dia, como consumir alimentos que comprou antes,  primeiro; verificar a validade e o estado dos alimentos comprados e comprar quantidade suficientes e não exageradas para não estragar.. 

As empresas de transportes e os produtores  possuem um papel fundamental, pois 14% dos alimentos são desperdiçados antes de chegarem aos mercados.

Leia Mais: Dia Nacional do Combate ao Desperdício de Alimentos

2) Produzir mais, com menos

O Brasil é um dos países que mais exportam alimentos. E a tecnologia é uma aliada muito importante para que a agricultura possa ser eficiente. Com acesso a mais informações e a mecanização da produção de alimentos, é fundamental para o combate ao desperdício.
Só que a tecnologia não está acessível para os pequenos e médios produtores. Por isso, a integração,  parcerias,  aliadas às políticas públicas podem proporcionar uma agricultura mais eficiente e sustentável, com alimentos mais acessíveis para todos.

3) Refeições nutritivas não precisa ser elaboradas

Na correria do dia a dia, preparar uma refeição muito elaborada, nem sempre é fácil, não é mesmo?

Uma refeição nutritiva pode ser preparada com poucos ingredientes  e na internet encontramos diversas pessoas compartilhando receitas simples e fáceis. Além de podermos aproveitar restos de alimentos, que não seriam aproveitadas, podemos elaborar refeições saborosas e nutritivas

Afinal, uma alimentação saudável, não precisa ser complicada!

4) Defender o Fome Zero

A fome acomete diversas pessoas tanto no Brasil, como no Mundo. Não podemos normalizar isso. Devemos nos conscientizar, compartilhar informação para que juntos, possamos mudar a realidade 

Contudo, fazer a nossa parte é importante, como também as políticas públicas abrangentes não só para erradicar a fome, mas também para a qualificação e geração de emprego e renda. Como vimos, a fome não anda sozinha.

O combate à fome deve ser prioridade, para que juntos possamos erradicar a fome até 2030 e cumprir os objetivos para que possamos proporcionar um planeta mais sustentável e justo para todos.

Escrito por: Adilson Junior.

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